Não é
de pouco tempo que tenho ouvido sermões sobre as bem-aventuranças onde Jesus, segundo
alguma versão, diz: “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus” (Mateus 5: 3), nos quais os pregadores costumam usar a
expressão, “pobres de espírito”, para aqueles que não carregam consigo outros
espíritos, mas têm somente o Espírito Santo. Esta forma de interpretar deve-se
ao fato de o termo “pobre” estar relacionado à carência, ou que seja não ter
algo, com abundância. Portanto, neste caso, ser pobre de espírito, nada mais é
do que não ter um número maior de espíritos, mas ter a virtude de ser possuído somente
por um, que é o Espírito de Deus.
Embora, frequentemente ouve-se tal interpretação,
ela é infeliz e descabida, pois, acima de tudo, não se trata do Espírito Santo,
mas do próprio espírito do homem; tanto é que, dentro da frase, a palavra espírito
inicia-se com letra minúscula, e também não está no plural, mas, sim, pobres de
espírito. E, mesmo em se tratando de ser apenas um espírito, isto é, o Espírito
Santo, que é o Espírito da verdade, da sabedoria, do entendimento, da
consolação e etc., tê-lo seria razão para se considerar riquíssimo de espírito,
e não pobre.
Alguma tradução bíblica é mais feliz
quando, em lugar de pobres, diz: “Bem aventurados os humildes de
espírito”. Mesmo que, neste caso, signifique os simples de mente ou os ingênuos,
a palavra humildes não está vinculada à situação de pobreza, mas à nobreza de
caráter, a não soberba, a não prepotência ou a não arrogância, prerrogativas tais
que se enquadram perfeitamente com a natureza de Deus. O humilde de espírito
tem consciência de suas limitações, submete-se aos percalços da vida, é
paciencioso, tolerante e bondoso. Contrariamente, o pobre de espírito é, sobretudo,
a pessoa que, mesmo de intelecto normal, é vazia espiritualmente, e que não
acrescenta nada de valor à vida das pessoas. É voltada para as coisas banais e mesquinhas,
e ama em demasia as futilidades da vida.
A
partir desta razoável análise, podemos concluir que a tradução que emprega o
termo “pobres de espírito” é controvertida e consequentemente não cabível na
Palavra de Deus, e quanto à analogia que se faz a respeito, é inadmissível. Paulo C Denúbila